terça-feira, 25 de janeiro de 2011

G U I L H E R M E A R A N T E S : 35 ANOS DE UM CLÁSSICO DA MPB, POP, ROCK, NEW AGE ...

Nos anos 1970/1980 uma enorme quantidade de ex-vocalistas de bandas invadiram o mercado musical internacional. Vários grupos musicais faziam sucesso com cantores que depois se tornariam clássicos, em carreiras solo, na história do pop-rock internacional.

Vejamos. A banda setentista The Raspberries (Go all the way/1972), por exemplo, uma das melhores de todos os tempos, tinha nada mais nada menos do que Eric Carmen nos vocais.

O Genesis contava com o talentosíssimo Peter Gabriel – e sua saída foi chorada pelos fãs - que depois tiveram de se contentar apenas com o magistral Phil Collins.

O Yes era liderado pela voz inconfundível de Jon Anderson, que mais tarde, em dupla com Vangelis, também faria muito sucesso.

Peter Frampton era o vocalista do Humble Pie, até invadir o mundo, em carreira solo, em 1976, com seu clássico Frampton comes alive – primeiro disco a ser oficialmente gravado ao vivo no mundo, com enorme sucesso de vendas.

Enquanto isso, Rod Stewart havia deixado o Faces (First Step/1970), para engrenar uma carreira solo que daria o que falar, desde seu primeiro sucesso Maggie Mae, de 1971.

Nessa época, havia, também, toda uma geração de pianistas- cantores-compositores. Dentre eles Neil Sedaka, Burt Bacharach (Burt Bacharach/1969), Billy Joel (Piano Man/1973), Barry Manilow (Barry Manilow/1973), Eric Carmen (All by myself/single/solo/1975).

Essa geração anglo-americana vinha na esteira do pop-rock dos anos 1960. Dez anos de uma verdadeira revolução na música e nos costumes. Calcada em influências clássicas da década anterior, a década de 1960 viu o rock ser revisitado pelos ingleses, o hard rock ser inventado pelos Kinks (All of the day and all of the night/1964), viu o rock progressivo ser construído, passo a passo, com discos já clássicos como Pet Sounds (Beach Boys/1966), Revolver, White Album e Abbey Road (Beatles/1966/1967/1969), Future days have passed (Moody Blues/1967), Procol Harum (A whiter shade of pale/1967), além da reviravolta na carreira do Pink Floyd, do vocalista David Gilmour, com o disco Ummagumma, de 1969, algo totalmente diverso do que a banda realizava até então.

Os anos 1970 nasceram dividos entre o glamour rock de Iggy Pop, David Bowie e Elton John, o hard rock de Led Zeppelin, Iron Maiden, Black Sabath e Deep Purple e o rock progressivo de Yes, Genesis, Emerson Lake and Palmer e King Crimson. Cena esta que seria atropelada pela disco music a partir da metade da década. Mas essa já é uma outra história.

Naquele momento, quase todas as gravadoras instaladas no País investiam no chamado Hits Brasil – cantores brasileiros que cantavam em inglês, em parte porque vivíamos o auge da censura, no governo Geisel, em parte porque o mercado assim exigia.

Nomes emergentes da “música brasileira” como Morris Albert (Maurício Alberto Keiserman), Mark Davis (Fábio Jr), Don Elliot (Ralph), Chrystian, Tony Stevens (Jessé) eram figuras carimbadas das “paradas de sucesso”, famosas em programas de rádio, como os de Barros de Alencar e Enzo de Almeida Passos, por exemplo, no início dos anos 1970. Raramente cantavam na TV, para não revelar o segredo de serem nativos.

Exatamente em meio a essa cena nacional e internacional, a Som Livre, que havia sido criada em 1971, em princípio para gerenciar as trilhas sonoras das telenovelas da Rede Globo, e de seus famosos Lps (depois Cds), resolve investir em alguns nomes emergentes da música popular brasileira.

Da Bahia chegaram Os Novos Baianos (Acabou chorare/1972), de São Paulo, Rita Lee e Tutti Frutti (Ex-Os Mutantes/Fruto Proibido/1975), Guilherme Arantes (Ex-Moto Perpétuo/Guilherme Arantes/Meu mundo e nada mais/1976) e o português Abilio Manoel (1947/2010) (América Morena/1976). Mas a Som Livre estava na contramão da história. O resto na gravadora eram os tais Hits Brasil.

O primeiro cantor a quebrar o “paradigma hits brasil” foi Guilherme Arantes. Convidado para também cantar em inglês, Guilherme convenceu os executivos da Som Livre a cantar no idioma nativo mesmo, o que ele já fazia no Moto Perpétuo, banda de rock progressivo, inspirada em Genesis e Emerson Lake and Palmer, composta por ele, Cláudio Nucci, Diógenes Burani, Egydio Conde e Gerson Tatini e que gravara apenas um LP, em 1974, pela Continental, com engenharia de som de nada mais nada menos que Pena Schmidt, atual diretor do Auditório Ibirpuera, depois de uma bem sucedida carreira como executivo da música.

Daí para a novela das 7 com Meu mundo e nada mais foi um pulo.

A cena da MPB se completava com o início de carreira de Milton Nascimento (Travessia/1967/ Festival da Canção/Rede Globo), Ivan Lins (O amor é o meu país/Festival da Canção/Rede Globo/1970), Djavan (Fato Consumado/Festival da Canção/Rede Globo/1976), entre outros.

Eram tempos de Luiz Melodia (Juventude Transviada/1976), Nuvem Passageira (Hermes Aquino/1976) e do Clube da Esquina, de Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges, 14 Bis, Toninho Horta, entre outros.

Eram tempos em que Secos e Molhados e Casa das Máquinas escandalizavam com seus vocalistas mega antenados e andróginos.

Eram tempos de festivais de MPB que refletiam – ao mesmo tempo – a “Alegria, Alegria” de um Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé – e o “Cinza Industrial” dos chamados anos de chumbo, como nos mostram os filmes Uma noite em 67 e Simonal: Ninguém sabe o duro que dei, além da minissérie Anos Rebeldes (Rede Globo/1992).

Eram tempos em que ainda se discutia se a guitarra elétrica podia ou não ser incorporada aos arranjos musicais na música brasileira, depois que Bob Dylan, influenciado por John Lennon, enfrentara os organizadores do Festival de Folk de Newport, em 1965.

Eram tempos em que uma obscura banda chamada Light Reflections, e que era brasileira, cantava Tell me once again, no rádio, para milhões de brasileiros.

Era o final dos anos 1960 e início dos anos 1970.

Nos anos 1980, o Brasil redescobre seu caminho de liberdade. Um governo civil assume. Isso se reflete na música pop daqueles anos. Surgem Marina, Lulu Santos, Leo Jaime, Paralamas do Sucesso e vivemos uma segunda etapa na carreira de Guilherme Arantes, abençoada pelo mantra do público do Maracanãzinho, entoado em Planeta Água, em 1981.

Elis Regina dera a Guilherme a chancela de grande nome da MPB ao gravar Aprendendo a Jogar – um super hit composto especialmente para ela.

Seguem-se dezenas de gravações e regravações – inclusive a do Rei Roberto Carlos – com música igualmente composta especialmente para ele em 1988 – Toda vã filosofia.

Seguem-se dezenas de sucessos e novas décadas regem sua música nos anos 1980 e 1990. Sobrevivente da vida, sobrevivente do tempo, sobrevivente das modas, sobrevivente dos vários governos no poder e dos vários planos econômicos, Guilherme se torna um clássico na música do Brasil.

No novo século, que ele cantou no disco de 1999, ele tem sido revisitado por nomes como Céu (Planeta Água/2010), Nando Reis (Lindo Balão Azul/2010), Edgard Scandurra (Meu mundo e nada mais/2010), Vanessa da Mata (Um dia, um adeus/2009), Bruna Caram (Cuide-se bem/2009), Pedro Mariano (Só Deus é quem sabe/2008), Leila Pinheiro (Brincar de Viver e O amor nascer (Prelúdio)/2007), Max Viana (Disque Sim/2007), Mariene de Castro (Planeta Água/2006), Paulo Ricardo (Contradição/2006), Blitz (Perdidos na Selva/2006), Martnália (Só Deus é quem sabe/2005), Isabella Taviani (Um dia, um adeus/2005), entre tantos outros. (*Veja relação completa em nosso site).

No momento, Guilherme se dedica a um novo CD em comemoração aos 35 anos de carreira, 37 contando como os 2 como vocalista do Moto Perpétuo. O seu 26º CD.

E quem diria que aquele estudante tímido que abandonou o curso de Arquitetura na USP, já no terceiro ano, à revelia dos pais, e para cantar nos auditórios da vida, iria tão longe ... 2011 promete! E como tudo que ele toca vira ouro, como um dia preconizou o crítico Lauro Lisboa Garcia, no Estadão, como não acreditar?!

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